biografia talvez


Estou gasto. Dei-me
sempre mais do que podia.
Já não há mais nada que me possam
roubar. 
Sou um corpo espoliado
de todos os bens, de todas as doenças,
de todas as sensações. 
Sou um corpo pronto para a morte, por
isso ela não vem. 
Assim o indica
a imensa linha da vida.
Sou um corpo que se evita, um
homem cujo nome se perdeu, e cuja
biografia possível está no que, bem ou
mal, conseguiu escrever. 
Sou um corpo sem nacionalidade, pertenço
às profundidades do mar, 
à imensidão dos oceanos, ao voo da ave que
há pouco me pousou na mão. 
Sou um alfabeto e não sei se terei tempo
suficiente para me decifrar.


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