Coiote Sutil
O poeta é um animal estranho
parido em noite de lua cheia
na beira de um rio escondido.
Costumava trazer guardado
no amolado anzol de sol-cristal
temperado na essência amarga
a antiga da sua dor.
O poeta canta baixinho
o nome da sua menina-amada
no fundo da noite da sua solidão.
O poeta pisa sutil
como um coiote na madrugada
e rasga com os seus dentes
a cortina rubra do seu século.
O poeta anda nu.
De nudez se veste.
A casa do poeta é caiada de branco,
Cercada de portais e varandas.
No quintal,
de pimenteiras e abacateiros,
os pardais fazem voos rasantes
e andam desengonçados
com suas asas abertas
na quenturinha do sol amigo.
O poeta tem o sorriso aberto
e uma dor guardada.
Cleomar Brandi