Seria
Seria bacana se a gente pudesse dissolver a ilusão de que
para sermos amados temos que ser outros que não nos habitam. Outros que não
somos. Outros que, no fundo, não podemos ser, mas também não precisamos. Ter
outras caras. Outros corpos. Outros gostos. Outros sonhos. Outros jeitos. É
inútil qualquer esforço de tentar caber onde o nosso coração não está. Onde ele
não pode nadar livremente, no tempo e no ritmo das próprias braçadas,
aproveitando, feliz, o contato com a vida. Há um desperdício imenso de energia
nessa história.
É tenso demais viver para agradar, em troca de pertencimento,
reconhecimento, alguma afeição. Maquiar as emoções, boicotar a própria
essência, trocar a luz natural por luminárias artificiais, bolar planos
fantásticos para chegar ao coração de quem quer que seja. Aff...
Cansa, só de imaginar.