Fazer falta
De vez em quando o único remédio é sair de cena para o show
continuar. Aprender a ser ausência quando tudo já foi dito, cobrado, explicado.
Deixar de ser insistência para ser abstinência
Controlar os próprios impulsos pode parecer simples, mas é
uma das coisas mais difíceis de se conseguir. Tanta alegria dando sopa lá fora
e a gente teimando em se fixar na pessoa que foi embora.
Suma
do mapa de quem vive com dúvidas e nunca lhe teve como certeza; de quem não
aprendeu a remar junto e agir com gentileza.
Aprenda a fazer falta para
quem já se habituou à sua presença e desaprendeu a sorrir quando você aproxima.
Pra quem se esqueceu como é boa a sua companhia e prefere se refugiar numa vida
fria.
Fazer falta é segurar o
impulso de procurar, vasculhar, perguntar. É frear a vontade de entender o que
não dá mais para explicar ou de justificar o que não merece absolvição.
Fazer falta é não ligar, não
mandar mensagens, não digitar o tal endereço na barra de contatos do email. É
sair para se distrair com os amigos, dar uma corrida no parque, respirar fundo
e encontrar sentido na solidão. É orar para o pensamento acalmar, não
bisbilhotar o perfil da pessoa no Facebook, deixar de postar as próprias fotos
com a intenção de ser visto à distância. É desistir de parecer bem quando não
está bem, é cortar o cabelo para renovar o espírito, é ficar bem longe do
celular enquanto toma um copo de cerveja ou uma taça de vinho. É, acima de
tudo, agir com esquecimento para quem sempre pareceu esquecer você.
Torço para que minha amiga
consiga sumir. Para que, sumindo, ela descubra se realmente faz falta. Para
que, sumindo, ela descubra o quanto sua presença é importante ou não. Sumir é
uma estratégia arriscada, eu sei. Mas também define muita coisa mal resolvida.
Também traz as respostas que buscamos e nem sempre encontramos.
Nem sempre as respostas serão
aquelas desejadas, mas no fim nos libertam a prosseguir com mais certeza,
clareza… e amor próprio.