A viúva tem dia....
O
Dia Internacional da Viúva foi criado pela ONU, em 2010, com o objetivo de
conscientizar a população do sofrimento das mulheres viúvas, lembrando das
crueldades cometidas contra elas, e obrigar os países a prestar atenção à
situação das viúvas e de seus filhos
Não há como falar dessa data, em 2021, sem lembrar que o
último ano corresponde ao ano da Pandemia de Covid-19.
O
número de seguidores do projeto nas redes sociais, bem como de participantes
nos grupos fechados e nas rodas de acolhimento aumentou exponencialmente. Os
números falam por si. Mas, aqui não somos números. Aqui não somos invisíveis.
Acolhemos
tantas viúvas – e viúvos – neste período que mal podemos contar. Escutamos suas
histórias, abraçamos suas dores e oferecemos um espaço de escuta amorosa onde
pudessem derramar seus sentimentos. Vimos crescer a procura por este espaço e
as demandas chegaram cada vez mais rápido até nós. A urgência por acolhimento
em tempos de pandemia ficou escancarada.
Aqui
nossas histórias se repetem, ainda que a idade e o contexto sejam diferentes,
assim como a queixas sobre a falta de compreensão e empatia, mesmo com o número
absurdo de mortes que temos enfrentado.
Talvez,
quando tudo isso tiver passado a sociedade aprenda que a morte é a única
certeza que temos e que não falar sobre ela ou escondê-la atrás dos muros dos
cemitérios não nos prepara para enfrentá-la. E mais, não nos dá instrumentos
para que saibamos lidar com a nossa dor e com a dor do outro. Nos faz tão
impotentes que quase dissolvemos quando a encaramos.
Perder
o amor da nossa vida, em qualquer tempo de convivência e circunstância, é ter a
vida interrompida. É como dormir serena nos braços dele e acordar no meio da
terra arrasada por um tsunami. Abrimos os olhos e não reconhecemos nada a nossa
volta. E temos que seguir porque, embora paralisadas pela dor, a vida insiste
em continuar e o sol insiste em nascer.
Hoje,
vivemos nosso luto dentro de um luto coletivo. Até o consolo dos abraços nos
foi roubado. Assistimos nos noticiários a escalada vertiginosa do número de
mortos. Meio milhão de vidas perdidas, fora as outras perdas que continuam a
acontecer todos os dias.
Não!
Viúvas não são números! Aqui sabemos muito bem. Por trás de cada amor que se
foi há um nome, uma história a ser contada e honrada, uma imensa dor em busca
de ajuda, de acolhimento e de compreensão.
Por
trás de uma viúva há uma mulher cujo convívio social é alterado de uma hora
para outra. Todos aqueles que acudiram no primeiro instante voltam para suas
vidas enquanto nossa dor fica ali, na invisibilidade. Somos bombardeadas pelos
velhos jargões como “você tem que ser forte”, “vida que segue”, “logo você vai
reconstruir sua vida” enquanto sequer conseguimos enxergar como conseguir
chegar ao final de cada dia.
Tornamo-nos
um ser híbrido, ao mesmo tempo coitadinho e ameaçador.
É
muito difícil ser viúva numa sociedade que ainda carrega o ranço do machismo.
Se a sociedade trata com discriminação as mulheres, as que são viúvas fazem
parte de um grupo ainda mais discriminado e julgado. Mas, como mulheres que
somos, sabemos que podemos dar as mãos porque juntas seremos sempre mais
fortes.
E
é isso que fazemos. Aqui, nos unimos pela dor, mas seguimos com amor.
Se
tropeçarmos no caminho, encontramos outras mãos que estão mais fortes para nos
erguer. Sabemos que podemos chorar, gritar de raiva e até rir dos percalços que
enfrentamos. Aqui convivemos com quem entende e valoriza nossa luta e nossas
pequenas conquistas.
Nosso desejo nesta data é que surjam muitos grupos de apoio a viúvas e viúvos no país para que possamos multiplicar esse trabalho de escuta amorosa e acolhimento, pois é isso que todos que estão vivendo a dor do luto pela perda de seu grande amor merecem…. escuta amorosa e acolhimento sempre!
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