A Águia Bicéfala




A Águia Bicéfala remonta à antiquíssima cidade de Lagash, que se situava na Suméria, Sul da Babilônia, na chamada baixa Mesopotâmia, entre os rios Eufrates e Tigre, perto da atual cidade de Shatra, no Iraque. Essa região, na época, tinha uma vintena de templos e santuários consagrados a diferentes divindades.
Segundo alguns historiadores, há mais de mil anos, antes do êxodo do povo de Moisés, no Egito, esse símbolo já era utilizado. Encontramos, no Freemasons' Guide and Compendium, de Bernard E. Jones, relato sobre a escavação das fundações de um templo, construído cerca de 3000 a.C., isto é, cerca de 2000 anos antes da construção do Templo de Salomão, sobre um achado de duas placas de terracota com inscrições, detalhando como a construção havia sido ordenada e iniciada. Essas placas foram ali depositadas, quando do lançamento da pedra fundamental do templo, por Gudea, governador de Lagash, na Babilônia. As inscrições dos cilindros, impressas nas mesmas, incluíam um esboço de um "pássaro da tormenta", representado por uma Águia com duas cabeças
No ano 102 a.C., o Cônsul romano Marius decretou que a Águia seria um símbolo da Roma Imperial. Mais tarde, já como potência mundial, Roma utilizou a Águia de Duas Cabeças, uma, voltada a Este, e outra, a Oeste, como símbolo da unidade do Sagrado Império Romano, em 414 a.C., utilizando-a em seus selos, simbolizando a unidade e universalidade do Império. Descrita, geralmente, em preto sobre um fundo dourado, a Águia Bicéfala substituiu a águia de cabeça única, utilizada anteriormente, e foi, posteriormente, adotada nos brasões de muitas cidades alemãs e famílias aristocráticas. Os Imperadores do Império Romano cristianizado continuaram a sua utilização, sendo, depois, adotado na Alemanha, durante o período de conquista e poder Imperial.

A primeira menção de uma águia de duas cabeças, no Ocidente, remonta a cerca de 1250, em um rolo de brasões enviado pelo monge beneditino, cartógrafo e historiador Mattew Paris para o Imperador Frederico II, do Sacro Império Romano, a quem tinha grande admiração, e a quem o contemplou com o epíteto, que ficou muito conhecido, de “Mundi Stupor” – estupor do mundo.  Após a dissolução do Sacro Império Romano, em 1806, a águia de duas cabeças foi adotada pelo Império Austríaco, e serviu, também, como o brasão de armas da Confederação Alemã.
Era um elemento principal do brasão de armas do Império Russo, sendo modificado diversas vezes, desde o reinado de Ivan III (1462-1505), recebendo sua forma definitiva no reinado de Pedro, o Grande (1682-1725). A Águia Bicéfala russa continuou em uso até ser abolida na Revolução Russa, em 1917. Como símbolo, foi restaurado em 1993, depois daquele ano de crise constitucional e permanece em uso até os dias atuais, embora, o brasão atual passou a ser de ouro ao invés do tradicional preto, imperial.

Os reis da Mércia, um dos sete reinos que compunham a Heptarquia anglo-saxônica, atual Inglaterra, a usaram como símbolo, antes da conquista normanda. Leofric, Conde de Mércia, a usou para representar a antiga família Shropshire. Na Escócia, a podemos encontrar no brasão de armas do Burgo de Perthshire, tornando-se, mais tarde, a defensora dos brasões do distrito de Perth e Kinross (1975).

A dinastia sérvia Nemanjić a adotou, em uma versão, na cor branca, para significar a sua própria independência e, de fato, o direito ao trono imperial de Constantinopla. A águia branca foi mantida pela maioria das dinastias medievais sérvias, bem como as Casas de Karađorđević, Obrenovic e Petrovic-Njegos e permanece, até hoje, em uso no brasão de armas dos países da Sérvia e Montenegro. George Kastrioti (Skanderbeg) adotou uma bandeira semelhante em sua luta contra os otomanos, que consiste em uma águia preta em fundo vermelho, que foi ressuscitado na atual bandeira da Albânia. Durante os séculos seguintes, a águia apresentava-se prendendo, em suas garras, uma espada e/ou um cetro, e um globo com uma cruz, símbolos da soberania dupla acima mencionada.

Seu uso, também, sobreviveu como um elemento da Igreja Ortodoxa Grega, que era o herdeiro do legado bizantino durante o Império Otomano, mantendo-se como um símbolo popular entre os gregos, estando, ainda, em uso em bandeiras da Igreja. Na Grécia moderna, é usada, oficialmente, pelo Exército, no brasão da Hellenic Army General Staff. 

Enfim, esse enigmático símbolo foi adotado por diversos povos e ocasiões, aparecendo em diversos brasões de armas e bandeiras atuais e históricos de muitos países e territórios, incluindo Albânia, Arménia, Áustria (1934-1938), Áustria-Hungria, Império Bizantino, Confederação Alemã, do Sacro Império Romano Império, Reino da Mércia (527-918), Montenegro, Reino de Mysore, Império Russo, Rússia, Império Seljúcida, Sérvia,  Império Sérvio, Reino da Sérvia, do Império Espanhol (durante a dinastia Habsburgo) e Reino da Iugoslávia. A localizamos no brasão e na bandeira da cidade de Toledo, na Espanha, e no brasão da cidade de Velletri, na Itália, uma série de cidades da Alemanha, Holanda e Sérvia.



 A Águia Bicéfala adotada pelo Supremo Conselho do REAA do Grau 33º do REAA da Maçonaria para a República Federativa do Brasil é de cor púrpura, cor da nobreza, do equilíbrio perfeito e da realização, matiz muito utilizada por várias religiões, e por Escolas de Iniciação do Oriente, por expressar a união das energias cósmica (Fohat - verde) e telúrica (Kundaline – vermelho), significando o perfeito entrelaçamento dos dois triângulos, formando o Hexágono Sagrado (interpenetração dos mundos celestes e terreno).

A Águia Bicéfala, considerada por muitos um dos símbolos mais antigo do mundo, expressa o Poder e a Soberania. Esse símbolo, quando utilizado em uma Escola de Iniciação, como é o caso, na Maçonaria, permite, aos “que têm olhos de ver”, aos verdadeiros Iniciados nos Augustos Mistérios, quando contemplá-lo, adentrar em seus enigmáticos arquétipos, levando-os a imaginar que tal símbolo, ainda que intuitivamente, fora sabiamente escolhido para expressar a enorme riqueza contida nas entrelinhas dos excelsos ensinamentos do Rito Escocês Antigo e Aceito.


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